No início de 2018, o periódico “The Lancet” publicou uma série de artigos sobre o problema da dor lombar(1)(2)(3). Em uma iniciativa que contou com experts de todo o mundo, foram debatidos temas como a prevenção e o tratamento da dor lombar (dentre outros). Uma conclusão (triste) é de que a maior parte dos profissionais de saúde do mundo não trabalham baseados nas melhores evidências disponíveis atualmente (durante este texto iremos citar alguns exemplos).
A dor lombar é uma condição de saúde que afeta, aproximadamente, 540 milhões de pessoas em todo o mundo(1). Em apenas 5% dos casos a dor lombar possui uma causa específica (como, por exemplo, fraturas ou tumores), nos outros 95% dos casos não se sabe a causa, senso assim, são chamados de dor lombar inespecífica. O quadro da dor lombar inespecífica fica evidente ao analisarmos estudos que evidenciam que pacientes com e sem dor lombar apresentam as mesmas alterações em exames de imagem (como Ressonâncias magnéticas e radiografias). Sabe-se que, nas primeiras seis semanas não existe qualquer associação entre alterações de exames de imagem e desfechos clínicos dos pacientes(6). Ou seja, os exames deveriam apenas ser pedidos em casos de suspeitas de fraturas ou tumores ou após seis semanas do quadro de dor lombar estar instalado.
Os quadros de dor lombar tendem a regredir substancialmente em, aproximadamente, 6 semanas(4). Contudo, aproximadamente, dois terços dos pacientes permanecem com algum quadro álgico após este período. Alguns fatores são preditores de dor lombar, como por exemplo, (1) quadro prévio de dor lombar, (2) doenças crônicas (como asma e diabetes) e (3) fumantes e obesos e (4) depressão e ansiedade.
Em relação a prevenção, sabe-se que, a maioria das técnicas comumente aplicadas não são suportadas pela ciência. A prevenção ideal é baseada em atividades físicas supervisionadas e um melhor estilo de vida.
Ao falarmos sobre o tratamento para a dor lombar, as técnicas de tratamento devem ser baseadas (em um primeiro momento) em exercícios e, caso os exercícios não sejam efetivos, poderiam se iniciar tratamento farmacológicos. Estudos mostram que, por exemplo, o paracetamol não apresenta resultados efetivos para pacientes com dor lombar aguda(7). Em casos de dor lombar aguda (menos de 6 semanas) ou crônicas (12 semanas ou mais), o tratamento deve ser baseado em terapias ativas (como exercícios aeróbicos e de fortalecimento), além de aconselhamentos sobre como se portar durante as crises. Caso as técnicas citadas anteriormente falhem, outras formas de terapia podem ser utilizadas(2).
Procure o seu fisioterapeuta para maiores informações.
Autor: Luiz F C Scola
Fisioterapeuta Núcleo Optimiza.
Mensagens para casa:
- A dor lombar não é uma doença, e sim, uma condição de saúde (como a dor de cabeça, todos terão alguma vez na vida).
- Terapias passivas não são indicadas para o tratamento da dor lombar.
- Exames de imagem são necessários apenas a partir da sexta semana ou em casos de suspeita de fraturas e tumores.
- Medicamentos não devem ser a primeira linha de tratamento para a dor lombar
Bibliografia
- Hartvigsen J, Hancock MJ, Kongsted A, Louw Q, Ferreira ML, Genevay S, et al. What low back pain is and why we need to pay attention. Lancet. 2018;6736(18).
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